A guerra do
transporte público
São
Paulo é o estado que tem maior fluxo de transporte coletivo do país. Milhares
de pessoas todos os dias enfrentam trens, metrôs e ônibus. São pais de famílias
que por meio do trabalho buscam o sustento dos filhos.
O
brasileiro João Gomes da Silva, 38 anos, é um personagem fictício no meio desta
realidade, morador da cidade de Poá, casado, pai de dois filhos e a esposa está
grávida do terceiro. Trabalha de auxiliar de produção de segunda a sábado em
uma empresa próximo ao metrô Liberdade. Ele embarca no trem das 6h na estação
de Poá, com os equipamentos preparados para enfrentar a batalha diária, na
mochila preta carrega a marmita com o almoço, a blusa de moletom, o
guarda-chuva e objetos de higiene pessoal.
Tentando
se equilibrar nos vagões de combate começa o empurra, empurra, escuta alguns
soldados na zona de risco explanando palavrões e outros fecham os olhos para
recuperar o sono perdido na madrugada. Assim, Seu João segue viagem até a
estação Guaianazes para transferência de linha, agora outro episódio de guerra,
a disputa por lugar para ir sentado até a estação da Luz.
Os
barulhos dos sapatos indicam a correria para entrar no outro trem. Outra vez o
empurra, empurra, junto com o aperto. Segundo a lei de Newton: dois corpos não
ocupam o mesmo lugar no espaço, mas no transporte público de São Paulo essa lei
não existe, pois cerca de quatro pessoas ocupam um metro quadrado dentro de um
vagão de trem.
O
aperto é constante como se fossem sardinhas enlatadas, um apoia no outro, são
braços nas costas, cotovelos na barriga, as pessoas ficam tão próximas uma das
outras que João chega a ficar quase 40 minutos sentido a respiração do outro
passageiro em seus cabelos.
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Enfim,
estação Luz, os combatentes fazem transferência para o metrô, começa uma nova
batalha, a aglomeração para aguardar o metrô na plataforma. Passa um e Seu João
não consegue entrar, passa outro, nem próximo da porta ele chega, finalmente no
terceiro ele consegue embarcar, junto dele as armaduras dos soldados
caracterizadas pelas bolsas e mochilas que se apertam no meio da multidão. Se
equilibra no aperto, após alguns minutos o trabalhador finalmente chega à
estação Liberdade, está parcialmente “liberto”, ainda falta à volta.
O
trabalhador chega à empresa no horário, ainda bem que não está chovendo, pois
quando isto acontece o transporte metropolitano fica lento e chegar ao serviço
sem atraso, é luxo. Está próximo das 17h, zona de combate aglomerada, um
exército de trabalhadores segue de volta para casa. Seu João embarca no metrô,
faz transferência para trem e chega à estação Brás, um dos maiores centros de
compras de São Paulo, mas agora um novo elemento faz parte da viagem, mulheres
com pacotes gigantes repleto de mercadorias para estocar e vender em seus
comércios. Mais uma vez algo que não funciona no transporte metropolitano, a
bela voz que anuncia “proibido carregar volumes que possam causar transtorno
aos usuários”.
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Passado
mais de 30 minutos, o trabalhador faz transferência para o trem sentido
Guaianazes, não consegue embarcar no primeiro então espera o próximo. Vê jovens
e homens sentados nos assentos preferenciais, olha para a esquerda, vê uma
gestante em pé e ninguém se manifesta para dar o lugar. Ele se lembra da esposa
grávida de cinco meses que poderia estar passando pela mesma situação. Assim,
segue viagem tendo que suportar o odor de suor dos passageiros característico
do dia de trabalho.
Chega
em Guaianazes, mas falta mais uma etapa, embarcar no trem sentido Estudante.
Finalmente, João desembarca ao destino final, estação Poá, caminha até sua
casa, já são quase 19h, chega dá um beijo na esposa e nos filhos toma banho,
vai jantar, assiste um pouco de TV e vai dormir para no outro dia enfrentar
tudo de novo, com um detalhe, completar o trajeto ida e volta de pé. É a
realidade do trabalhador brasileiro registrado com cerca de dois salários
mínimos, trabalha muito e descansa pouco.
Estamos
em ano eleitoral, os candidatos começam a fazer campanhas, promessas,
discursos, passam quatro anos no poder e pouco faz pelas politicas públicas do
país. O transporte público está um caos, são poucos veículos para comportar o
grande número de passageiros. Em 2014, o Brasil será sede do maior evento esportivo,
a Copa do Mundo e receberá vários estrangeiros. Será que até lá teremos
transporte coletivo adequado para os brasileiros e os visitantes? Ou o país
ficará com a má fama aos olhos das outras nações? Depende de quem a sociedade
colocará no poder para que os líderes políticos escolhidos trabalhem em favor
do povo.
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