Cultura
e Marighella
Por: Aline Pagliarini
Sob o olhar dos dragões
chineses e uma arquitetura rústica estão crianças, jovens e adultos. Os mais
formais usam ternos e gravatas, e os estilos mais despojados apostam nos tênis
e chinelos. Outros compõem o look com roupas de verão, e alguns se abanam com
leque ou utilizam as próprias mãos para minimizar o calor que atinge os 30°. Mas,
mesmo com o ambiente abafado, as pessoas não deixam de contemplar os andares da
Livraria Cultura, na Avenida Paulista.
Sobre os puffs coloridos do
1° andar, algumas pessoas leem livros. Outras desfrutam da tecnologia, com
celulares, tablets e notebooks. A música ambiente é agradável e favorece um
cochilo, como faz uma jovem de características orientais, deitada em um enorme
puff verde.
Percorrendo pela livraria,
gente até de outra nacionalidade aprecia as estantes de livros, CDs, DVDs e discos
de vinil. Os que se interessam por alguma obra sentam-se nas poltronas macias,
iluminadas pela luz dos abajures que ficam sobre os criados-mudos. Uma cena
rouba a atenção dos leitores: um senhor de cabelos grisalhos acomoda-se no
tapete de camurça, que reveste toda a livraria, e lê um livro junto com um
cachorrinho branco. O animal não late, mas as pessoas que passam por perto
acham engraçado o episódio.
Foto: Arquivo PessoalMagalhães, Lucimar e estudantes de jornalismo da UBC |
Carlos Marighella é o
companheiro da noite, porém ele não veio, mas está retratado no livro do jornalista
e escritor, Mário Magalhães. Após nove anos de pesquisa, ouvindo cerca de 200
fontes em que 30 morreram durante a produção da obra, Magalhães narra em mais
de 700 páginas a vida frenética e surpreendente do militante comunista, Marighella.
Mulato de Salvador foi fundador do maior grupo armado de oposição à ditadura
militar, mas era também um homem irreverente e brincalhão.
A cor laranja que predomina na
capa do livro faz referência ao título: Marighella – O guerrilheiro que
incendiou o mundo. O autor reconstitui a trajetória do biografado: as passagens
pela prisão, a resistência a tortura, as operações de espionagem na Guerra Fria
e a emboscada do dia 04 de novembro de 1969, que ceifou a vida do guerrilheiro
lutador.
Nem mesmo o calor atrapalhou
as pessoas que faziam fila para o escritor autografar o livro. Eram leitores
interessados na história, jornalistas, políticos, e também os estudantes de
jornalismo da Universidade Braz Cubas (UBC), acompanhados pela professora Lucimar
Gonçalves. Formando um semicírculo entorno de Magalhães, os alunos tiveram
direito a autógrafos e fotos.
O aroma do café vindo da
praça de alimentação da livraria convida para uma parada. Mesas, cadeiras
estofadas e lustres decorados acomodam os clientes. Entre cafés, sucos, bolos
de chocolate, e a paisagem dos prédios iluminados vistos através das janelas do
estabelecimento, os estudantes debatem sobre o mundo mágico da leitura, a
história de Marighella e a cultura paulista.
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