Impresso
e jornalismo prostituto
Por:
Aline Pagliarini
A correria diária das
redações e a cobrança dos editores para fechar o jornal, enviar para a
diagramação e chegar às mãos dos leitores no dia seguinte, faz com que os
jornalistas deixem de abordar o fato com a dimensão humana, no intuito de
suscitar o interesse e a atenção do público.
Não utilizam o gênero
literário que está quase extinto no impresso e usam modalidades informativas e
interpretativas. Deixam de lado detalhes que contribuem na essência da notícia:
não observam ambientes, cores, cheiros e expressões faciais dos entrevistados,
simplesmente reproduzem o mesmo que as outras mídias, e em algumas situações
nem vão a campo para constatar o fato pessoalmente, decidem fazer a entrevista
por telefone ou e-mail.
Ocorre que para cumprir
todas as pautas do dia, falta tempo para uma apuração mais minuciosa e isso
acaba deixando a matéria superficial, transferindo para os textos as mesmas
informações que os outros veículos já deram. Além disso, as mídias eletrônicas
conseguem informar primeiro que o impresso, que infelizmente só chegam às
bancas na manhã do outro dia.
Em contrapartida, recém-formados
em jornalismo quando entram no mercado querem colocar em prática o que aprenderam
durante o curso, porém são emplacados pela linha editorial em saber que a
imprensa é uma empresa e precisa de subsídio financeiro para se manter, muitas
vezes custeada por poderes políticos. E também, pela pressão dos editores que
deixam as matérias padronizadas e cobram dos repórteres o que o veículo pede:
ouvir o maior número de fontes de informação.
Quando consultamos uma fonte
de informação as declarações podem ser limitadas, como no caso de lideranças
políticas ou pessoas com alguma influência na sociedade que são orientadas
pelos assessores a falarem somente o necessário. Assim, utilizamos recursos
como: De acordo com..., Segundo ele..., será que essas declarações merecem ser
publicadas nos órgãos de imprensa?
Acontece que para entregaram
as matérias com o limite de toques exigidos, o jornalista após redigir o lide e
responde-lo faz uso das informações adicionais, abrindo aspas e colocando a
fala de alguém citado na matéria. Resta saber se o público leitor dará
importância a estas frases pré-montadas.
No entanto, o jornalista
lida com um dos bens mais importante da sociedade contemporânea, a informação.
As pessoas não querem saber o que aconteceu, mas por que aconteceu. Querem que
os jornais sejam uma caixa de surpresa, ao abri-lo se deparem com exposições
inéditas que mexam com o interesse público, o que até alterem o modo de pensar.
Porém, a realidade é outra,
os jornais chegam às bancas pela manhã e viram um simples pedaço de papel no
final da tarde. Quando falta espaço para completar a diagramação, apelam em aumentar
o tamanho das fotos, colocam mais anúncios publicitários ou inserem notas.
Quando a circulação diminui, recorrem ao departamento de marketing para que
crie ações de comunicação, agregando à venda do impresso a alguma promoção.
O alemão Johannes Gutenberg
ficaria feliz em saber que a prensa móvel resultou em uma mídia de comunicação
de massa, porém ficaria frustrado em ver que sua invenção virou um comércio de
textos pautados conforme a ideologia do veículo.
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